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Abordagem Nutricional na Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC)

 


Por Bruna Hermisdoff, Jackeline de Oliveira, Josiene Garcia e  Lívia Mendes

Alunas do Curso de Nutrição da UFJF – texto produzido na disciplina de Dietoterapia II – módulo Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (2020. 2o semestre)

Revisado por Aline Silva de Aguiar (Professora Departamento Nutrição/UFJF) e Gabriela Amorim (Doutoranda em Saúde Coletiva/UFJF)


    A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) trata-se de um grupo de doenças pulmonares causando a diminuição da elasticidade dos pulmões e o espessamento da parede brônquica o que dificulta a respiração. As DPOC mais comuns são o enfisema e a bronquite e estão associadas a uma resposta inflamatória anormal dos pulmões devido à exposição ao tabaco, poluentes, e/ou infecções respiratórias graves, dentre outros. Os sintomas incluem falta de ar, tosse crônica ou chiados durante a respiração. 

    Tais doenças acometem, no Brasil, cerca de 17% dos adultos maiores de 40 anos de idade, além disso, há uma evidente associação de DPOC com desnutrição ou mesmo com obesidade. Por isso, o presente texto busca demonstrar a importância da nutrição no tratamento dessa doença. Apesar de haver uma associação mais frequente de pacientes com baixo peso e DPOC, nos últimos anos, houve um aumento no número de pacientes com sobrepeso e DPOC, sendo pertinente considerar esta realidade. 

    A obesidade modifica o curso clínico da DPOC, aumentando o esforço muscular necessário para a ventilação, com maior dispneia e, finalmente, reduzindo a tolerância ao exercício. Além disso, a inflamação sistêmica tem sido previamente relacionada ao excesso de massa gorda na DPOC. Dessa forma, aumentada nos obesos, a inflamação sistêmica pode aumentar as respostas inflamatórias pulmonares, o que pode agravar a obstrução das vias aéreas na doença pulmonar preexistente. Portanto, torna-se muito importante uma intervenção nutricional para perda e controle de peso corporal objetivando um adequado estado nutricional para minimizar as complicações da doença. 

    Já a perda de peso é sinal clínico na evolução da maioria dos pacientes com DPOC e tem sido associada à menor sobrevida dos portadores. A má nutrição associada com doença pulmonar avançada tem sido denominada de “síndrome de caquexia pulmonar”, que está associada com um declínio acelerado do estado funcional do paciente. O impacto da desnutrição na DPOC altera a fisiologia da composição corporal, parênquima pulmonar, função respiratória (ventilação, hipoxemia, força muscular e teste da caminhada em 6 minutos), além da capacidade física no geral. Sendo assim, faz-se necessário a recuperação do seu estado nutricional. 

    Em vista disso, a intervenção nutricional na DPOC é necessária e de extrema importância, em ambos os casos, para o ajuste do peso e adequação do estado nutricional dos pacientes. A terapia nutricional pode, ainda, interferir diretamente na sua capacidade respiratória com o controle, por exemplo, de minerais como cálcio e magnésio. Ambos minerais atuam na contração da musculatura lisa, sendo necessários à manutenção normal da estrutura e função do pulmão, além de exercerem uma função regulatória na atividade dos brônquios. O fósforo também é um mineral importante por estar envolvido na troca gasosa tecidual a partir do 2-3 bifosfoglicerato. 

    Além disso, a intervenção nutricional irá contar com diversas estratégias para melhorar a alimentação desses pacientes, contornando, em muitos casos, sua falta de apetite e/ou dificuldade para se alimentar, dependendo do grau da doença. Dada a natureza irreversível da DPOC, torna-se  importante o controle e gestão de condições que permitam aumentar a sobrevida dos doentes, tal como manter um bom estado nutricional através de uma intervenção nutricional direcionada, com consumo calórico, de macronutrientes e micronutrientes atendendo as demandas da DPOC estável ou agudizada, podendo minimizar as complicações da desnutrição e da obesidade sobre a doença e permitir uma melhor qualidade de vida nesta condição clínica.


Referências: 

CRUZ, Marina Malheiro;  PEREIRA, Marcos. Epidemiologia da Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica no Brasil: uma revisão sistemática e metanálise. Ciênc. Saúde Coletiva [online]. 2020, vol.25, n.11, pp.4547-4557. Epub Nov 06, 2020. ISSN 1678-4561. http://dx.doi.org/10.1590/1413- 812320202511.00222019. 

FERNANDES, Amanda Carla; BEZERRA, Olívia Maria de Paula Alves. Terapia nutricional na doença pulmonar obstrutiva crônica e suas complicações nutricionais. J. Bras. Pneumol. vol.32 no.5 São Paulo Sept./Oct. 2006. 

SERRA, Érica Alexandra Moinhos do Nascimento. Estado Nutricional e Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica. Ciclo em Ciências da Nutrição. Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto Porto, 2019. Disponível em: https://repositorioaberto.up.pt/bitstream/10216/120688/2/337685.pdf. Acesso em: 09 Fev 2021. 

SILVA C.S, SILVA JÚNIOR, C.T, SILVA, P.S et al . A. Abordagem nutricional em pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica. Pulmão RJ 2010;19(1-2):40-44. Disponível em: http://www.sopterj.com.br/wp-content/themes/_sopterj_redesign_2017/_revista/2010/n_01- 02/08.pdf Acesso em: 09 Fev 2021.

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